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O lado B de ser uma empreendedorA

Quem disse que não há lado negro da força em ser mulher, mãe, empresária e empreendedora errou o filme. É muito bom falar das conquistas e do que deu certo. É motivador. Em contrapartida, falar do lado B do mundo feminino, dos desafios em lidar com as dificuldades de ser uma mulher empreendedora na sociedade e no contexto corporativo, não é fácil, mas necessário. Acredito que a minha história possa ajudar outras mulheres a continuarem firmes no propósito de crescimento pessoal e profissional e de conquistar seus objetivos.

Bem-vinda ao meu bate-papo com o projeto Female 2 Female, onde compartilhei as dores e amores, o lado A e o lado B de ser uma empreendedorA. 

[Female 2 Female] Você planejou ser empresária, empreendedora e dona do seu próprio negócio ou aconteceu? 

Sim, sempre. Só não sabia que seria a TR10. Meus pais são empresários. Desde muito nova convivo com o B2B e sempre fui apaixonada por gente. Adoro pessoas, conversar. Adoro conhecer gente e histórias. Sempre imaginei que o meu negócio próprio seria de acessórios e jóias. A TR10 foi uma outra feliz trajetória.

[Female 2 Female] De arquiteta e designer para empreendedora. O que muda? 

Absolutamente tudo. Como empreendedora, meu tempo é mais precioso e consequentemente mais escasso. Tenho mais tarefas, mais responsabilidades, maiores preocupações, mais pessoas com quem me preocupar. Outra mudança fundamental foi o foco de estudo. Eu costumava ler artigos mais técnicos voltados para a minha área. Hoje direciono meus estudos para a área de gestão.

[Female 2 Female] Como são os seus dias de empresária e empreendedora? Como é um bom dia? Como é um dia ruim? 

Os dias são excitantes! Loucos, muito loucos. Um dia bom é um dia claro, tanto em aparência  como em sentimento. É um dia em que eu já acordo louca, faço feliz um milhão de coisas ao mesmo tempo. Tenho três telefones tocando e resolvo os três. Faço mais de duas visitas in loco. Almoço às 15h, conheço alguma pessoa nova e ouço uma história de superação. Pego o maior trânsito e, nesse meio tempo, consigo marcar médico ou ligar pra algum cliente. Chego na TR10 e despejo inúmeras informações e prazos. Para fechar com chave de ouro o ótimo dia, ouço um elogio sobre a equipe ou trabalho entregue e fecho um novo negócio.

Um dia ruim é um dia cinza, em aparência e sentimento. É quando você batalha um monte e morre na praia. Sai de casa toda feliz e otimista e algo dá errado com um cliente. É quando você tenta resolver um mega problema da melhor forma, não consegue e acaba optando por um caminho mais difícil. É quando cruza com pessoas intolerantes que te fazem pensar duas vezes: “será que eu realmente tô no caminho certo?”. 

[Female 2 Female] Quais são os seus maiores desafios em ser uma empreendedora? O que mais exige de você?

As pessoas são o meu maior desafio. Uma mínima falha que possamos cometer compromete muitas pessoas ligadas diretamente a mim (na empresa), fora da empresa (clientes) e indiretamente a minha família. Essa falha pode refletir em casa toda a minha angústia e preocupação. Outro grande desafio que tenho com a empresa é o tempo. Fico muito dividida entre meu trabalho, que eu amo e me dedico 9, 10, 11 ou mais horas por dia, e a minha bebê, que ainda depende full time da minha atenção. É uma angústia que somente uma mãe entende. 

[Female 2 Female] Você já teve vontade de desistir de tudo? Se sim, o que aconteceu e como você lidou e superou isso? 

Sim! Quando a minha filha Maya nasceu, eu pensei duas, três, quarto, cinco, mil vezes em desistir de tudo. Dizem que a maternidade muda a gente e, de fato, muda sim. Nunca fui um ser humano de muito mimimi, sempre meio “bruta” no bate e pronto, por isso não me sensibilizava o que as pessoas diziam sobre a relação da maternidade com o trabalho. Achava que seria muito tranquilo e natural o retorno após a volta ao trabalho após a maternidade. Engano meu! Passaram muitas coisas pela minha cabeça. Foi a ação mais dolorosa da minha vida, mas também a minha superação. Senti uma excitação, uma adrenalina, ao mesmo tempo que cultivava um amor infindável pela minha filha. Pensei: “se amor e dor andam juntos, vou descobrir!“. Junto com a maternidade comecei a não ver a hora de sentir novamente aquela falta de rotina, de ter uma pessoa nova para falar, de ver gente. Eu estava pronta para retomar a vida de empresária. Aprendi a não esquecer o que me move, independentemente da maternidade: essa adrenalina maluca do trabalho. 

[Female 2 Female] O que você ama dessa vida de empresária / empreendedora? 

A loucura! Sou movida a adrenalina e detesto rotina. Amo o novo dia, adoro problemas x soluções. Cada dia um novo desafio, uma nova proposta, um novo trabalho, um novo material para estudar, e pessoas diferentes para lidar.

[Female 2 Female] O que você detesta nessa vida?

A sujeira do mundo dos negócios, sempre há o lado podre. Ter de ter o jogo de cintura para sair de saias justas não é tarefa fácil. Não me agrada nada. 

[Female 2 Female] Se pudesse mudar / editar / apagar / melhorar tudo que já fez, o que mudaria? 

Mudaria, apagaria, editaria, melhoraria tanta coisa. E, ao mesmo tempo, por incrível e mais cliché que pareça, penso que seria um contra-senso. Porque o que eu mudaria fez parte do meu amadurecimento. “Bater a cabeça” dói e “faz galo”. Mas nos faz melhores, mais prudentes, mais ousados, mais inteligentes. Enfim, crescer dói.

[Female 2 Female] Você é mãe. Como é ser mãe e ter um negócio próprio? Como você concilia tudo? 

Mãe recente e de primeira viagem de uma linda bebê de nove meses! É o sonho de muita mulher, imagino, ter o horário flexível e autonomia, ao invés da carteira assinada. O desejo em ter mais tempo para o filho torna-se maior do que a ambição salarial e/ou profissional. No entanto, torna-se uma via de mão única, pois seu negócio não caminha sozinho, assim como seu filho. Fica difícil uma conciliação. Se você trabalha menos, sente-se frustrada e culpada por ter deixado trabalho em aberto  ou com a sensação de que poderia ter feito mais. Se trabalha mais, sente-se frustrada por ter deixado seu filho na escola mais do que o tempo programado. Realmente é uma batalha vivida dia a dia, a qual estou ainda aprendendo a enfrentar. Às vezes acho que ganho e às vezes perco.  Estou aprendendo aos poucos. Mas tenho certeza que preciso dos dois para ser feliz: trabalhar e me sentir realizada e ser mãe.

[Female 2 Female] O que mudou a sua relação no trabalho com a maternidade? 

Meu tempo, meu humor, minha paciência, minha resiliência. Sou mais focada no trabalho, pois agora essa hora é sagrada. Não consigo mais levar trabalho para casa, como fiz minha vida toda. Encaro os problemas com o melhor humor possível, tenho mais fé na vida, sou mais mulher! Sou 100% responsável pela vida de outro ser humano. Sempre tive estopim curto e explodia com muita facilidade. A maternidade me deu a graça da paciência e abasteceu a minha resiliência. Hoje convivo com humor, paciência, sabedoria e resistência, apesar da exaustão física e mental que há no processo de todo o início da maternidade – noites sem dormir são uma realidade, preocupações com o filho que só depende de você. Sem contar com a relação matrimonial que muda completamente. Estou numa longa e profunda negociação séria comigo mesma.

[Female 2 Female] Quem te inspira e te apóia nos momentos difíceis?

Minha sensacional mãe que sempre trabalhou, empreendeu e cuidou de três filhos e as 8 milhões de brasileiras, mães empreendedoras como eu!

[Female 2 Female] Qual o momento mais crítico que teve que lidar durante a sua carreira profissional? Como superou? 

Quando abrimos a TR10. Não tínhamos cartela de clientes, não tínhamos clientes, não tínhamos trabalho. Tínhamos o sonho, a vontade de trabalhar, de empreender, de fazer acontecer, mas não sabíamos como. Iniciamos nossas tarefas realizando levantamento cadastral de arquitetura em agências bancárias para um outro escritório de arquitetura, que nos pagavam 1/5 do valor “real” do serviço. Cinco anos depois, com trabalho duro e muito suor na camisa, estamos de pé, maiores, mais fortes, mais sábios e ainda continuamos muito suados!

[Female 2 Female] Sabe-se que há milhares de mulheres empreendedoras no Brasil. Muitas ainda lutam para alcançar a estabilidade, muitas já chegaram lá e muitas ainda não tiveram coragem ou não sabem como começar. Qual o seu conselho para as mulheres que desejam investir no sonho de ter o negócio próprio. 

Trace um plano de negócios, estude o mercado no qual se pretende entrar, saiba onde está pisando, esteja preparada para trabalhar muito além das 8h por dia, como era para o empregador. O empreendedor vai além das 12h por dia. Coragem, força, competência e resiliência.

[Female 2 Female] Complete a frase: ser mulher empreendedora é… 

Ser persistente para encarar obstáculos e se ajustar a qualquer situação; 

Ter paixão pelo que faz, porque deixa tudo mais fácil, caso algo der errado;

Ser ousada, pois a a ousadia é marca da feminilidade;

Buscar inspiração em pessoas, livros, filmes, etc.;

Deixar pra trás o sexismo, pois a competência gera o impulso e a motivação.